Tentativa de usar chips Huawei atrasa modelo R2 e expõe dependência de tecnologia dos EUA

A ambição da China de reduzir sua dependência de tecnologia americana sofreu um revés notável no campo da inteligência artificial. A DeepSeek atrasou o lançamento de seu novo modelo R2 após falhas ao tentar treiná-lo exclusivamente com chips Huawei em vez dos chips da Nvidia, destacou uma reportagem do Financial Times citada pela Reuters.

O caso ilustra as dificuldades encontradas pela start-up chinesa ao seguir a orientação de Pequim para usar semicondutores nacionais de alto desempenho: os chips Huawei Ascend utilizados não conseguiram sustentar o pesado treinamento do modelo de forma satisfatória, obrigando a DeepSeek a retornar às GPUs Nvidia para completar o processo.

O plano original da DeepSeek era treinar integralmente o R2 em uma combinação de Huawei Ascend 910/310 para treinamento e inferência, como forma de provar a viabilidade de uma alternativa local e driblar as restrições de exportação dos EUA.

Porém, engenheiros enfrentaram problemas persistentes de compatibilidade e desempenho ao escalar o treinamento nos chips chineses, resultando em erros e lentidão muito acima do previsto.

Após semanas de tentativas, a empresa optou por um meio-termo: usou as GPUs Nvidia disponíveis (em menor quantidade) nas etapas críticas de treinamento e limitou o uso dos Ascend apenas para inferência e testes complementares.

Essa decisão adiou o cronograma do R2 e confirmou que, pelo menos por enquanto, os chips domésticos não estão prontos para substituir integralmente as soluções americanas nos projetos mais avançados.

A situação coloca a DeepSeek no epicentro de um dilema tecnológico da China. Por um lado, há forte incentivo governamental – inclusive financeiro – para que campeãs nacionais de IA usem componentes chineses, reforçando a autossuficiência. Por outro, a realidade técnica demonstra que os chips Nvidia continuam dominantes em capacidade.

O atraso do R2 coincidiu com a notícia de que os EUA, após intensificarem sanções em abril, permitiram parcialmente a venda dos chips Nvidia H20 à China em julho sob licenças controladas, aliviando um pouco a escassez momentânea.

Contudo, quase simultaneamente, Pequim respondeu exigindo que empresas locais de IA justificassem detalhadamente suas encomendas de chips Nvidia – um sinal de descontentamento com a contínua dependência e possivelmente uma forma de coibir compras excessivas, conforme relatado pela imprensa chinesa.

Para a DeepSeek, a perspectiva é desafiadora. Fontes indicam que a empresa está colaborando de perto com fabricantes de chips chineses emergentes, como a Tianjin Phytium e a Biren Technology, testando protótipos de aceleradores que possam vir a equipar seus datacenters no futuro.

Especialistas, porém, ponderam que levará tempo até que a indústria de semicondutores chinesa atinja paridade com a Nvidia em desempenho e ecossistema de software.

Enquanto isso, a DeepSeek caminha em corda bamba: atrasar lançamentos para atender a metas políticas de independência de chips, ou avançar tecnicamente com o que há de melhor – mesmo que estrangeiro.

A expectativa é que o modelo R2 enfim seja lançado nas próximas semanas, segundo fontes ouvidas pelo Financial Times, possivelmente já combinando a infraestrutura híbrida (Nvidia + Huawei) que a DeepSeek conseguiu montar.

Ainda que o episódio evidencie a atual supremacia do hardware dos EUA, ele também mostra a determinação e rapidez com que a China – e empresas como a DeepSeek – estão tentando encurtar essa distância tecnológica.

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