Enquanto muitas start-ups de IA buscam monetização rápida, a DeepSeek adota um caminho distinto: priorizar pesquisa e avanço tecnológico em detrimento de ganhos imediatos.
Em entrevista coletiva e comunicado à imprensa, executivos da empresa afirmaram que não têm planos de comercialização a curto prazo, concentrando esforços em aprimorar seus modelos e infraestrutura.
Essa filosofia contrasta com a abordagem do Vale do Silício, onde a pressão por retornos leva empresas a vender acesso a modelos e serviços logo após o lançamento.
“Nossa missão principal é avançar o estado da arte e construir fundamentos sólidos de IA”, disse Liang Wenfeng, cofundador e CEO da DeepSeek, ressaltando que a empresa é apoiada financeiramente por investidores de longo prazo que compartilham dessa visão.
A estratégia de “pesquisa em primeiro lugar” proporciona à DeepSeek algumas vantagens singulares.
Ao não precisar rentabilizar imediatamente seu chatbot ou API, a empresa pode operar livremente dentro das regulamentações chinesas de IA, que impõem controles mais rígidos sobre serviços comerciais voltados ao consumidor.
A DeepSeek argumenta que, como seu foco não é um produto de consumo em massa, ela consegue escapar de certas obrigações regulatórias iniciais, como auditorias de algoritmo e restrições de conteúdo, que recaem sobre sistemas lançados comercialmente.
Isso permite iterar mais rápido em aspectos puramente técnicos – por exemplo, ajustando arquiteturas de modelo, explorando contextos extensos de entrada e experimentando métodos de fine-tuning – sem a mesma pressão externa enfrentada por concorrentes diretos já inseridos no mercado.
Especialistas avaliam que a postura da DeepSeek lembra a de laboratórios de pesquisa, como o DeepMind em seus primeiros anos, mas em escala de start-up.
“Ao abrir mão de receita imediata, eles ganham liberdade para inovar e talvez superar tecnicamente rivais que estão presos às demandas de clientes pagantes”, analisa um professor de ciência da computação em Pequim.
Essa filosofia atraiu talentos acadêmicos: muitos dos pesquisadores da DeepSeek vêm de ambientes universitários e militares de ponta – incluindo profissionais ligados às chamadas “Sete Filhas da Defesa Nacional” da China (as principais universidades de tecnologia militar) – com experiência em áreas como matemática avançada e linguística.
A diversidade de formações se reflete nos modelos da DeepSeek, que apresentam competências diferenciadas em poesia, lógica formal e outros domínios não triviais.
Contudo, nem todos estão convencidos de que a estratégia será sustentável a longo prazo.
Analistas financeiros apontam que, em algum momento, a DeepSeek precisará traçar um plano de monetização para arcar com os elevados custos de treinamento e infraestrutura.
Liang Wenfeng, porém, demonstra tranquilidade: “Quando atingirmos um patamar tecnológico realmente transformador, as oportunidades de receita surgirão naturalmente”.
Por ora, a DeepSeek se mostra confortável em nadar contra a corrente, alavancando goodwill da comunidade científica e fomentando colaborações – como a abertura de seu código e a parceria com plataformas como SambaNova – para solidificar sua posição como líder técnica em IA de código aberto.