Microsoft proíbe DeepSeek: Segurança de Dados e Acusações de Propaganda em Foco

Em audiência no Senado dos EUA em maio de 2025, a Microsoft anunciou que não permite que seus funcionários usem o aplicativo de IA chinês DeepSeek.

O vice-presidente e presidente da Microsoft, Brad Smith, explicou que o banimento interno se deve a “preocupações com a segurança de dados e propaganda chinesa”.

Segundo Smith, o DeepSeek armazena dados de usuários em servidores na China – sujeitos às leis locais de inteligência – e suas respostas podem ser influenciadas pela censura estatal chinesa.

A empresa também retirou o DeepSeek da loja oficial de aplicativos da Microsoft por essas razões, segundo apuração da imprensa.

Razões alegadas: dados na China e propaganda

Os motivos públicos citados pela Microsoft concentram-se em riscos de segurança da informação e viés ideológico.

Em depoimento, Brad Smith destacou dois pontos principais: primeiro, que dados corporativos e pessoais processados pelo DeepSeek podem trafegar por servidores chineses e ficar sujeitos a leis de inteligência do país; segundo, que o chatbot pode gerar conteúdos alinhados à “propaganda chinesa” e censurar temas sensíveis (direitos humanos, democracia, Tiananmen, etc.), conforme já observado por especialistas.

Em suas próprias palavras, “os dados [do DeepSeek] ficam armazenados na China” e suas políticas obrigam a cooperar com agências locais de inteligência. Internamente, a Microsoft avaliou que tais vulnerabilidades seriam “inaceitáveis” para seus sistemas e usuários.

  • Armazenamento de dados em servidores chineses, sujeitos a legislação local e inteligência estatal.
  • Possibilidade de respostas influenciadas pela censura e pela “propaganda chinesa” oficial.
  • Censura embutida: pesquisas revelaram que o DeepSeek evita temas como o massacre de Tiananmen e reafirma narrativas do governo chinês, levantando suspeitas de viés ideológico.
  • Políticas de privacidade que autorizam o compartilhamento de informações “por motivos de interesse público”, reforçando alertas de que “dados sensíveis não devem ser colocados” no serviço.

Em discurso oficial, Smith afirmou: “Na Microsoft, não permitimos que nossos funcionários usem o aplicativo DeepSeek”, resumindo a decisão.

O caráter aberto do modelo DeepSeek (open source) permite que qualquer usuário execute o código localmente, mas a empresa entende que mesmo assim persistem riscos, como a propagação de desinformação ou brechas de segurança no software.

Contexto geopolítico e proibições similares

A medida da Microsoft ocorre em meio a uma onda global de restrições a aplicativos chineses por motivos de segurança.

Nos últimos anos, governos e empresas têm se mostrado cautelosos com a influência de tecnologias de origem chinesa.

Por exemplo, em 2023 o Reino Unido baniu o TikTok de dispositivos oficiais do governo, juntando-se a países como EUA, Canadá e membros da UE que impuseram restrições semelhantes devido a riscos de espionagem digital via conexões com o governo chinês.

Nos EUA, uma lei assinada em dezembro de 2022 proibiu o TikTok em aparelhos federais e mais da metade dos estados já tomou medidas similares.

De forma análoga ao caso DeepSeek, vários países decidiram limitar ou proibir o uso do serviço em órgãos públicos. Entre eles estão:

  • Austrália (fev/2025): proibiu o DeepSeek em todos os dispositivos governamentais por “riscos à segurança”, segundo agências oficiais.
  • Taiwan (fev/2025): baniu o uso do DeepSeek em departamentos públicos, citando riscos de segurança e censura; alertou para o perigo de dados acabarem na China.
  • Itália: bloqueou o aplicativo por falta de transparência no uso de dados pessoais.
  • Índia: ministério das Finanças pediu que funcionários evitassem usar DeepSeek em tarefas oficiais, por temores de vazamento de informações sigilosas.
  • Coreia do Sul: suspendeu novos downloads do DeepSeek após questionamentos de proteção de dados locais, liberando-o apenas após ajustes.

Esses episódios refletem um ambiente de forte tensão tecnológica.

O DeepSeek não é exceção nessa tendência: ele se soma à lista cada vez maior de apps suspeitos ou proibidos em ambientes corporativos e governamentais por apontarem vulnerabilidades de segurança de dados e espionagem digital.

A decisão da Microsoft sinaliza que outras empresas podem seguir reavaliando o uso de tecnologias estrangeiras em suas redes internas.

Reações de especialistas e do mercado

Analistas de segurança da informação e especialistas em IA reagiram destacando preocupações maiores sobre a influência de Pequim na tecnologia.

Pesquisadores alertam que “Beijing vem transformando seu domínio tecnológico em arma para vigilância, controle e coerção”.

Ross Burley, do Centre for Information Resilience (financiado por EUA/UK), afirmou que sistemas de IA como o DeepSeek podem “alimentar campanhas de desinformação e consolidar narrativas autoritárias em nossas democracias”.

Outros especialistas lembram que qualquer empresa chinesa de tecnologia com dados de usuários está sujeita às rígidas leis de segurança da China, o que reforça o temor de usos indevidos da informação.

No mercado de tecnologia e IA, a posição da Microsoft foi vista como um precedente marcante. A proibição reafirma que segurança de dados e soberania digital são prioridades inegociáveis, mesmo diante da concorrência acirrada por novas soluções de IA.

Para analistas de negócios, a decisão deixa claro que provedores de tecnologia devem avaliar cuidadosamente a privacidade e o local de armazenamento dos dados ao oferecer serviços de IA (especialmente se ligados a governos estrangeiros).

Por outro lado, a Microsoft destaca que manteve o modelo DeepSeek R1 disponível em sua nuvem Azure, com ressalvas de segurança. A empresa afirma que esse modelo é open source e pode ser executado em servidores próprios dos clientes, evitando o tráfego de dados à China.

Ainda assim, a própria Microsoft declarou ter feito alterações técnicas no modelo antes de disponibilizá-lo no Azure, removendo supostos “efeitos colaterais prejudiciais” e realizando testes de segurança rigorosos.

Essa dualidade — banir o app mas oferecer o modelo — mostra que o mercado de IA busca um equilíbrio: aproveitar inovações tecnológicas chinesas, porém sob controle e governança ocidentais.

Impacto nos usuários corporativos e posição do DeepSeek

Nos ambientes corporativos que integraram o DeepSeek, a proibição da Microsoft terá efeitos imediatos: a equipe de TI terá de desativar o acesso interno ao app DeepSeek em desktops e dispositivos móveis.

Em contrapartida, clientes empresariais ainda podem usar o modelo DeepSeek R1 hospedado no Azure ou localmente em PCs com Copilot, o que ameniza preocupações com a exposição de dados.

Recentemente, a Microsoft informou que o R1 poderá ser executado localmente em computadores “Copilot+”, o que “pode aliviar preocupações de privacidade e compartilhamento de dados” nos EUA.

Além disso, para empresas preocupadas com segurança, o caráter open-source do DeepSeek é uma vantagem: pode-se auditar o código, “cortar” funcionalidades indesejadas e hospedar internamente, conforme evidenciado pela própria Microsoft.

A Microsoft ressaltou que adaptou o código do DeepSeek removendo partes potencialmente prejudiciais antes de liberar o modelo no Azure. Esse exemplo incentiva clientes a considerar soluções similares de código aberto, permitindo customizar a IA ao contexto interno sem enviar dados sensíveis ao exterior.

Até o momento, não houve manifestação pública da DeepSeek sobre a decisão da Microsoft. A startup chinesa segue promovendo sua plataforma R1 como opção competitiva no mercado global de IA.

Porém, a exclusão de seu aplicativo da infraestrutura da Microsoft tende a limitar sua penetração entre empresas que usam o ecossistema Microsoft (Windows, Teams, Azure etc.).

Com a crescente desconfiança internacional, profissionais de TI corporativos avisam que organizações devem rever suas políticas de uso de IA externa e focar em medidas de governança de dados.

Em suma, o veto ao DeepSeek pela Microsoft ressalta como a segurança de dados e as tensões geopolíticas estão redefinindo as regras do jogo da inteligência artificial.

DeepSeek banido, portanto, sinaliza uma era em que empresas e governos alinham suas escolhas tecnológicas a critérios de confiança nacional, espionagem digital e controle informacional.

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